“Observe-se que os termos vulgarization (francês)
e divulgação (português) contêm ambos o vocábulo
vulgo – que significa o povo, a plebe.”
Maria José Coracini
(O Signo Desconstruído)
(...)
a) a noção de sujeito no discurso científico
O discurso de Pêcheux põe em discussão a noção de sujeito no discurso científico, e portanto no discurso da divulgação científica, tirando um exemplo do domínio da física. Cita o galvanômetro e sua função como amostragem da construção de um discurso que se propõe universal, onde a metonímia é usada como recurso de linguagem, enquanto relação da parte com o todo, da causa com o efeito, do sintoma com o que ele designa, etc.
Para explicar a função do galvanômetro, Pêcheux cita as seguintes construções, que se propõem como universais:
“A passagem de uma corrente elétrica determina a deflexão do galvanômetro”
ou
“Constatamos uma deflexão do galvanômetro, que indica a passagem de uma corrente elétrica...”
Este sujeito oculto nós, do último exemplo, pressupõe a aquiescência do leitor, sugerindo situações onde está subtendida a postura ideológica do “todo mundo sabe”.
E o autor explica: “o desenvolvimento que acabamos de efetuar pede uma observação com respeito ao domínio de exemplos utilizados”: trata-se de um exemplo extraído do domínio da ciência física, apelando, portanto, para o que chamamos processos conceptuais-científicos, não sustentados por um sujeito, que seria nomeado como o impossível, ou oculto sujeito da ciência.
Pêcheux diz: “Voltaremos mais adiante na relação entre processo sem sujeito e universalidade ideológica do sujeito; essa relação está diretamente ligada ao que foi mostrado, quando falamos de simulação de ciências pela ideologia.”
Como se observa, o autor tenta esmiuçar, em detalhes, diferentes formações discursivas e suas relações ideológicas, ou ocultamentos e simulações em face da ideologia.
Tem por crivo o que outro escritor contemporâneo, o italiano Umberto Eco, chama de filtragem ideológica, em entrevista publicada no caderno Mais!, do jornal Folha de S.Paulo, de 08 de agosto de 1999, mostrando a atualidade de Michel Pêcheux e suas incursões pela análise do discurso. (...)
TRECHO DO LIVRO :"OS DONOS DA PAISAGEM", editado no ano 2000, pelas edições NJR-ECA/USP, dirigida por Glória Kreinz e Crodowaldo Pavan, volume 3.
capítulo : "Teoria e Prática da Divulgação Científica" GLÓRIA KREINZ
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